Colecionadores de Selos: Formando a próxima Geração

 

por Rubem Porto Jr.


Colecionar selos pode ter um papel importante na vida das crianças (sejam eles seus filhos, netos, ou vizinhos), partilhando, ensinando e promovendo o processo de colecionar. Esta atitude pode levar as crianças a se apaixonarem pelos selos, colecionando-os e facilitando o seu desenvolvimento cognitivo. Basta tempo e vontade de tentar. 

O colecionador em idade pré-escolar 

Crianças com menos de cinco anos não têm destreza manual para lidar e tratar com pedaços de papel muito pequenos. Não podemos esperar que decodifiquem letras ou números. Algum tipo de atividade voltada para o colecionismo para as crianças desta faixa etária deve estar centrada em assuntos que a criança possa administrar sem dificuldade, obter facilmente, e guardar sem da melhor forma possível. Com o tempo, chegará a ocasião deles se interessarem e colecionarem, de verdade, os selos. 
Para criar e cultivar eventuais interessados nesta faixa de idade, podemos a eles oferecer caixas de plástico coloridas com tampas ajustadas de diferentes tamanhos para que nelas eles guardem seus “tesouros”. As coisas que podem ser colecionadas por elas devem ser de acesso fácil e sem custo para a criança. Devemos ficar atentos a lhes fornecer objetos que possam ser acrescentados à coleção e devemos encorajá-los a “juntar” diferentes espécies de coleção. 
Deve ser estimulado que nossas crianças procedam diversos tipos de classificações. Devemos estimulá-las a estabelecerem diferenças.Devemos perguntar a elas: os objetos colecionados são iguais? em que medida estes objetos são semelhantes? a coleção tem quantos objetos? todos os tipos de objetos são em igual número ou há mais de um tipo que de outros? qual a cor de cada objeto? Que objetos são maiores e menores? 
Devemos nos lembrar que o tempo de atenção da criança em idade pré-escolar é pequena. O interesse que ela tem por um conjunto de coisas (a coleção) pode desaparecer muito rapidamente e deslocar-se completamente para algo diferente. A aceitação deste fato de uma forma natural é essencial para sermos bem sucedidos na nossa função de mentores do hábito de colecionar. 
Não é aconselhável, de início, mostrarmos a nossa própria coleção ao potencial colecionador se ela não for possível de ser manuseada. As crianças são desarrumadas, com mãos ligeiras, e a nossa ansiedade com os possíveis prejuízos pode ser transmitida à criança, passando a ela uma certa tensão que não será prazeirosa e ela certamente perceberá. Esperar que a criança olhe e não toque faz com que a coleção seja outra coisa perante a qual o adulto está a dizer à criança o que não deve fazer. 

A Criança em Idade Escolar 
v Quando as crianças aproximam-se dos seis anos acontece-lhes coisas, para mim, quase que miraculosas. Começam a reconhecer que as letras representam sons utilizados na formação das palavras e reconhecem estas. Os outrora desajeitados dedos começam a ser capazes de controlar com firmeza e destreza o lápis e de manejar com facilidade pequenos pedaços de papel. Está na hora! Começam elas a estar maduras para os selos. 
O despertar do interesse é mais facilmente conseguido através de uma aproximação personalizada. A partir do momento que o jovem começa a ler com mais desenvoltura é o momento de começarmos a mandar-lhe coisas pelo correio. Cartões de boas-festas, cartas breves, cartões postais, bilhetes postais, etc. Tudo isso estimula o interesse em receber e enviar correspondência. Toda esta correspondência deve ser selada tanto quanto possível com selos comemorativos interessantes. A criança ter um conjunto de cartões postais pode encorajar a ela, responder à correspondência. É a hora de tentar criar na escola um “clube de correspondentes” para troca de correspondências entre os participantes. 
Esta é também a ocasião para estimular a criança observar os selos. O que é que eles dizem? Que pessoa ou evento é retratado? Se não é um selo do seu país, de que país veio? Onde é aquele país? (Localizar o país em um mapa mundo ou num globo cria uma consciência da geografia frequentemente ignorada em nossas escolas.) Que língua é lá falada? Que produtos torna o país conhecido? Como é o país governado? 
O eventual colecionador infantil não é um colecionador adulto. Precisamos de todo o nosso autocontrole para evitar reagir à maneira como a criança trata os selos. Os dedos pegajosos inevitavelmente sujam, mancham, os selos. Heresia para nós, mas natural para eles. À medida que o jovem for sentido orgulho saquilo que possui, a coleção refletirá a maneira de tratá-la. 
Devemos lembrar que as primeiras coleções têm mais valor histórico que filatélico. Se tentarmos neste momento introduzir demasiadas tarefas complexas, como a de manusear os selos com a pinça, por exemplo, o potencial colecionador poderá desistir. 
Algumas técnicas básicas como molhar os selos para retirá-los dos envelopes, em vez de os arrancar de qualquer forma, o uso das charneiras para fixá-los, em vez da cola, deve ser suficiente neste início. 
Ajudar o jovem colecionador a escolher um lugar adequado para colocar seus selos pode ser uma outra tarefa importante. Um álbum grande pode ser tão frustrante quanto uma excessiva porção de brócolis no prato na hora do jantar! Um livro demasiado pequeno também pode não ter espaço suficiente para os tesouros do jovem colecionador. Um caderno com uma capa simples é preferível a um caderno de folhas soltas pois as crianças são frequentemente pouco delicadas a virar as páginas. Se estivermos familiarizados com o uso do computador, pode ser interessante utilizar algum programa de desenho de páginas. Estejamos atentos à possibilidade de a criança poder ser mais adepta e mais apta ao uso do computador que nós e será importante com ela partilhar os seus conhecimentos. 
Sugestões sobre as formas de obter selos também são importantes, especialmente se não exigirem dispêndio de dinheiro. Pedir aos vizinhos e aos negociantes locais a correspondência é uma forma de desenvolver as capacidades sociais da criança. Devemos. Logicamente, estar disponíveis para ensaiar os primeiros contatos e devemos talvez até mesmo acompanhar a criança junto de alguns dos nossos amigos e vizinhos. Acima de tudo, devemos evitar sermos críticos. Comentários positivos sobre os esforços do jovem são mais importantes e determinantes para lhe manter o interesse, que observações negativas sobre selos danificados ou páginas montadas descuidadamente. 

Breves visitas a exposições locais, promoção de oficinas e de breves exposições na escola e nos clubes que frequentam, são maravilhosas. Lembremo-nos, entretanto, que a criança não estará disposta a ficar tanto tempo quanto nós, colecionadores, ou a ver a mesma quantidade de selos quanto é nossa intenção. Agora já temos uma base de fundamentos para criarmos novos e felizes colecionadores. Se lhe parece que as sugestões apresentadas tendem a fazer de si um «chato» recordemos que a filatelia é, provavelmente, uma das atividades mais agradáveis, lúdicas e menos nociva que podemos oferecer as nosas crianças. 

Nota Este texto foi desenvolvido com base em argumento de Jean L. Balinky, uma psicóloga e consultora escolar, colecionadora e filatelista. 

 

Fonte: http://www.clubefilatelicodobrasil.com.br/artigos/aopiniao/novage.htm