Porque Colecionamos Selos?

por Ana Lucio Sampaio. 

 

O hábito de colecionar coisas acompanha alguns homens desde o momento em que desceram das árvores e procuraram as cavernas para se abrigar. Conchas, sementes, pedras, ossos e tudo quanto iam achando de interessante em suas andanças para a coleta do seu alimento diário. Possuir coisas, dava sentimento de segurança e poder. Como hoje ainda continua sendo, embora existam outros elementos que mais facilmente proporcionam ao homem os tão necessários sentimentos de segurança e poder. Não são todas as pessoas que se entregam a algum tipo de colecionismo, pois, para isso, é preciso que se tenha desenvolvido um aspecto da personalidade: o traço de caráter acumulativo. 

O traço de caráter acumulativo é bastante desenvolvido e freqüente nos países mais ricos e nas sociedades mais cultas e elitizadas. É um aspecto da boa educação e do ambiente refinado em que vivem as pessoas, preservar as coisas, cultuar memórias e transmitir para seus descendentes a idéia de continuidade. Quanto mais ignorantes são as pessoas, menos noção têm de continuidade e preservação de coisas e memórias. O simples desinteresse pelas coisas está aliado ao desrespeito pela conservação de objetos, móveis e utensílios e ao desperdício até mesmo de comida, como tanto se vê por aqui, característica fundamental da falta de educação, e pobreza de espírito. 

Evoluíram os que guardaram e preservaram cultuando as memórias, os que pouparam e se preocuparam não apenas em sobreviver, mas em crescer também. Desceram todos das mesmas árvores no mesmo tempo e estágio de evolução, mas há povos que continuam na Pré-história. Quando o espírito é curioso e acumulativo torna-se grande, e tudo o que o indivíduo planta, cresce e frutifica. A riqueza do espírito produz a riqueza material. A inteligência humana bem trabalhada e aproveitada é pródiga. Mas essas características, ás vezes, não fazem parte do berço do indivíduo. Infelizmente nem todos podem ter a mesma sorte de nascer onde haja condições materiais e culturais para crescer, contudo, podem ser adquiridas e estimuladas, até forçando um pouquinho a natureza, para espantar a preguiça e o comodismo e o conformismo. Se não fosse assim, não teria existido Lincoln, que antes de ser o grande presidente dos Estados Unidos, foi lenhador, quase miserável e, até a idade adulta foi analfabeto. Como ele, muitos outros existiram e souberam enriquecer o espírito aprendendo e crescendo. 

Assim, como não são todos os que colecionam coisas, são menos ainda os que colecionam selos, porque para sentir o prazer de colecionar selos é preciso, além de ter boa educação e requinte, possuir uma sensibilidade especial, como aquela que tem os apreciadores de artes plásticas, música erudita, estudos profundos de filosofia e ciências que envolvam o espírito humano. 

Entendem os selos como objeto de coleção aqueles que tem paixão pela cultura e fazem desta paixão um estilo de vida. É por esta razão que o perfil do filatelista sistemático se coaduna tão bem com o perfil dos que abraçam a carreira universitária, em toda sua amplitude de pesquisa e ensino. 

O verdadeiro colecionador de selos sente prazer em possuir os selos, em admirá-los, estudá-los e arrumá-los. Sente prazer em ver sua coleção ir aumentando pouco a pouco, bonita e organizada, como uma extensão de si mesmo. Não deplora o tempo que despende no trabalho de cuidar de sua coleção e nunca a faz com a intenção de vendê-la. A idéia principal do colecionador é de possuir e de desfrutar os prazeres que a coleção proporciona. A cada dia, em cada selo, o colecionador aprende alguma coisa e cresce um pouco mais. A coleção é um tesouro de conhecimento e cultura a ser preservado e legado aos descendentes. Para o colecionador, a Filatelia é quase uma religião que o regra em todos os aspectos da vida, enchendo-a de paz e tranqüilidade. Quanto mais culto e requintado é o indivíduo, mais apegado é à sua coleção. 

Logo que entrei na faculdade, para fazer o curso de Jornalismo, um dos professores, para integrar a classe, começou a perguntar a todos o nome, a idade e todas aquelas coisas a respeito de cada um, para que se apresentassem aos colegas. Quando chegou a minha vez e falei ser filatelista, a classe inteira ficou assombrada. O único a saber o significado da palavra Filatelia, também foi o único de minha turma que conseguiu ir para a equipe de Jornalismo da Rede Globo. Filatelia é só uma questão de cultura, requinte, sensibilidade e inteligência bem desenvolvida. Assim sendo, determinadas pessoas colecionam selos e outras nem sabem o que é isso ou então costumam dizer que não vêem graça alguma em um pedacinho de papel. 

 

Fonte: http://www.clubefilatelicodobrasil.com.br/artigos/aopiniao/pq.htm